Depressão

O humor, ou estado de ânimo, é o “colorido” que damos às nossas experiências. O que conhecemos como depressão são os “estados de humor” deprimidos, ou seja, os estados de tristeza que parecem não acabar mais.

Hipócrates, conhecido como o “pai da medicina”, deu o nome de melancolia ao quadro que conhecemos hoje como depressão. Nesses pacientes, além de tristeza profunda, o ilustre médico grego identificou sentimentos de culpa e tendência ao suicídio.

A depressão, ou melancolia, não é um grupo homogêneo de afecções e provavelmente envolve mais de uma etiologia. O termo depressão é utilizado tanto na descrição de um sintoma de muita tristeza, como de um conjunto de sintomas ou de um transtorno do humor, com diversas manifestações clínicas, que pode ocorrer em todas as idades.

De maneira geral, a depressão está associada à incapacitação e comprometimento da saúde física e os pacientes deprimidos apresentam limitações de sua atividade e bem estar.

 

A DEPRESSÃO É UM TRANSTORNO INCAPACITANTE

Nos anos 90, a depressão foi estimada como a quarta causa específica de incapacitação através de uma escala global para comparação de várias doenças. A previsão para o ano 2020 é a de que será a segunda causa em países desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento. Quando comparada com as principais doenças crônicas, a depressão só tem equivalência em incapacitação às doenças isquêmicas cardíacas graves, causando mais prejuízo no estado de saúde do que angina, artrite, asma e diabetes.

Ao longo da vida, todas as pessoas se confrontam com fontes de sofrimento, decepções e frustrações e o sentimento de tristeza, ou mesmo um estado melancólico pode acometer qualquer um de nós. Geralmente, esse estado dura horas ou dias. Entretanto, quando a tristeza é profunda eduradoura, especialmente quando acompanhada de prejuízos funcionais, mesmo que relacionada a um acontecimento perturbador, como desapontamentos, perda do emprego ou rompimento de relacionamento amoroso, pode ser considerada um episódio depressivo.

 

Na atualidade, a depressão é um dos mais importantes problemas psicológicos que atinge as pessoas na idade adulta, mas a maioria nem percebe que está doente. Muitas vezes, as pessoas entendem  apenas como mais uma "fase ruim", ou identificam os sintomas de depressão como uma reação “compreensível” e não procuram ajuda. Outros,procuram um clínico geral, acreditando estar com falta de vitaminas ou alguma doença física, mas 30% a 60% dos casos de depressão não são diagnosticados pelo médico clínico e, assim, grande parte dos pacientes deprimidos não recebe tratamentos suficientemente adequados e específicos.

 

A DEPRESSÃO EM NÚMEROS

 

De cada dez pessoas que procuram o médico, pelo menos uma preenche os requisitos para o diagnóstico de depressão.

A prevalência anual da depressão na população em geral varia de 3% a 11% e é duas a três vezes mais frequente em mulheres do que em homens. Em populações específicas, como a de pacientes com infarto recente, a prevalência é de 33% e nos pacientes com câncer pode chegar a 47% das pessoas. Em pacientes internados por qualquer doença física, a prevalência de depressão varia entre 22% a 33%.

Cerca de 2% das crianças e 15% dos adolescentes sofrem de depressão. O quadro de depressão na infância e na adolescência sinaliza maior risco de episódios depressivos na idade adulta, o que reforça a necessidade de se fazer o diagnóstico e de dar início ao tratamento o mais precoce possível.

O psiquiatra avaliará se o grau de depressão exige tratamento só com terapia ou se a pessoa precisará, também, de medicamentos antidepressivos. Dentro de uma proposta terapêutica integral, o médico pode indicar ao paciente, além do tratamento específico, mudança de hábitos, assim como a prática de exercícios. Casos graves exigem internação para promover os cuidados pessoais, como higiene e alimentação e, principalmente, evitar que a pessoa tente tirar a própria vida.

 

A DEPRESSÃO É UM TRANSTORNO CRÔNICO E RECORRENTE

A depressão se deve a uma complexa interação entre fatores genéticos associados a adversidade ambiental, incluindo conflitos familiares, abuso, negligência e situação socioeconômica. Na idade adulta o estresse é uma das principais causas da depressão. A solidão, a inatividade, as perdas de entes queridos estão entre as principais causas de depressão na terceira idade.

Dentre os fatores que parecem estar associados a um maior risco de recaídas e recorrências de depressão estão: o número de episódios prévios, a permanência de sintomas residuais, a gravidade dos sintomas depressivos, episódios de duração mais longa, presença de sintomas psicóticos, resistência ao tratamento, paciente do sexo feminino, estresse social (pouco ajustamento social) e eventos adversos da vida, como falecimento de parentes próximos, divórcio, problemas financeiros graves, internação hospitalar e violência.

Existem evidências contundentes de que os medicamentos antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão aguda de moderada a grave, quer melhorando os sintomas, quer eliminando-os. A meta de qualquer tratamento antidepressivo deve ser a remissão completa dos sintomas. A permanência de sintomas residuais de depressão está associada a pior qualidade de vida, pior funcionalidade, maior risco de suicídio, maior risco de recaída e aumento de consumo de serviços de saúde.

Evidências sugerem uma maior eficácia de tratamentos combinados (medicamentos antidepressivos + psicoterapia) em depressões moderadas a graves e nos casos de depressões leves os indícios são de eficácia semelhante para uso de medicamentos antidepressivos, psicoterapia e tratamentos combinados.

Estudos epidemiológicos das últimas décadas revelam uma redução da frequência de suicídio com a prescrição de antidepressivos. Alguns dados sugerem que o tratamento com um subgrupo desses remédios, conhecidos como ISRS (Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina) poderia aumentar o risco de suicídio em alguns pacientes no início do tratamento. No entanto, comparativamente, o risco de suicídio é mais alto antes do início do  tratamento medicamentoso.

 

Colaboração: Dra Gabriela Judith Crenzel (CRM:5249623-2)