Pessoas más
Para aqueles que gostam de uma boa prosa lá vou eu novamente. Ontem parei para refletir sobre o que motiva as pessoas a serem más. Há criaturas que pisam, humilham, e sentem prazer no sofrimento alheio. Ostentam uma falsa riqueza. Freqüentam colunas sociais, estão na mídia, adoram serem chamadas pelo codinome “Doutor, Vossa Excelência”.
Independente de classe social ou religião, essa praga tem se alastrado por todos os lados. Estão nos salões de beleza, bares, jogos de bocha... Em tudo contam vantagem. Coronéis sem ética, generais sem pátria. Amigos não possuem mais, ao seu redor apenas os chacais bajuladores a espera de uma esmola. Nivelam tudo por baixo. Julgam os outros sob sua ótica de vida. E quando se deparam com pessoas que não estão à venda sentem-se impotentes. Afinal de contas o seu argumento é sempre o financeiro, não conseguem conjugar um verbo no infinitivo, gerúndio ou particípio.
Não sabem eles que o destino de todos é o mesmo: na horizontal, num caixão escuro, sete palmos para baixo da terra. O que levarão para a sepultura... A lembrança daqueles os quais eles enganaram? Das promessas não cumpridas? Pobres vidas sem vida!
Para Etienne de La Boétie há três espécies de tiranos: uns chegam ao poder por eleição do povo, outros por força das armas, outros sucedendo aos da sua raça. “Os eleitos procedem como quem doma touros; os conquistadores como quem se assenhoreia de uma presa a que têm direito; os sucessores como quem lida com escravos naturais”.
Isto me faz recordar o que um “renomado” político falou certa vez num programa de televisão: “não existe eleição perdida, e sim uma negociação mal feita”. Após escutar aquela fala em rede nacional, de pronto lembrei-me de uma passagem bíblica: “E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto.” (Lucas 4: 5-8).
Agora eu pergunto, será que vale a pena ganhar tudo e perder a alma? Com que cara o tirano olha para sua esposa, para seu filho? Como será que ele se vê no espelho... Pois eu lhe digo, nada vêem. Estão cegos, são sepulcros caiados. Sua caridade é como a dos fariseus nos tempos bíblicos, sua religião é apenas uma aparência enganosa. Não comem, ruminam. Já não sabem mais a diferença entre verdade e mentira, pois tudo falam, tudo fazem, e nada mais importa.
As tão propaladas “soluções” para os muitos problemas brasileiros não passam de canto de sereias a fim de enredar o maior número possível de pessoas nas redes de argumentações falaciosas cujo objetivo de fundo é a dominação. Nada além disto.
Mas então você deve estar se perguntando, qual será a saída. Para onde devemos ir? A resposta é: não vá. Fique onde você está. Deixe que eles corram atrás de você. Haja com ética. Olhe nos olhos. Lembre-se: se você disser a verdade, não terá do que se lembrar!
VILSON SCHAMBECK é dentista, leitor e colaborador do Unisul Hoje